VOLUNTÁRIO
Quem já sentiu o fim
da vida sabe o que significa uma segunda chance.
Eu estava caído
quando ele chegou, mal pude ver seu rosto, nada consegui dizer, senti apenas
meu corpo deixando o chão; se aquele fosse o fim, seria feliz.
A fome não é a dor
maior, o abandono nos mata antes, e quando a morte chega, leva apenas nosso
corpo, porque nossa humanidade há muito tempo já nos deixou.
“Fica comigo!” – a
voz vinha de longe, mas era carregada de um sentimento que eu não sentia desde
que minha mãe partiu, amor.
Puxei o ar com todas
as forças que ainda tinha, eu queria ficar, e fiquei.
Aos poucos fui me
recuperando.
Ainda lembro do
primeiro prato de comida que recebi. Olhei pra aquilo tudo, só pra mim. Comi a
metade e devolvi a outra.
“Você não tá com
fome?” – foi o que ele me perguntou, parando também de comer.
“Pra quem não tinha
nada, ter a metade é muito. Quero que outra pessoa também se alimente.” – foi o
que respondi.
Ele chorou.
Eu também.
“Se é o que você
deseja, é o que vamos fazer.” – Ele me devolveu o prato, pegou o seu que também
estava pela metade e disse: “Vem comigo.”
Não precisamos andar
muito para encontrarmos dois irmãos à beira da estrada. Eu conhecia aquele olhar.
Nos aproximamos e oferecemos nossas comidas. Os dois sorriram, um sorriso que
eu também conhecia. Pegaram os pratos. Um deles ergueu o braço e fez um sinal,
duas meninas menores surgiram, e o que eram duas metades, alimentaram quatro,
que depois daquela cena foram acolhidos por nós.
Naquele momento eu
soube o que faria com minha segunda chance. Acredito que ele também sabia.
Eu me tornaria, em
tempo integral, um voluntário.
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