Eu via aquela cena
como se fosse um filme, alternando sua narrativa e imagens entre aquele menino
e eu.
De onde elas vinham?
Não sabia, mas
precisa descobrir.
* * *
Terra seca, olhos
úmidos, apenas úmidos, porque chorar seria desperdiçar um bem precioso chamado
água.
A fome, a sede, a dor
da caminhada solitária, mas a certeza de que hoje tudo seria diferente.
* * *
Vejo a terra seca, o
olhar úmido, mas sem lágrimas, elas seriam um desperdício.
Vejo a fome, a sede e
a dor da caminhada solitária, mas vejo a esperança, e mais do que a esperança,
a fé.
* * *
Às vezes penso que
tudo isso é apenas um sonho ruim.
Às vezes acho que já
morri.
Na maioria das vezes
procuro não pensar.
Não lembro da última
vez que sorri.
* * *
Às vezes penso que
não é apenas um sonho.
Não consigo parar de
pensar.
Já não consigo
sorrir.
Como poderia alguém
tão distante, alguém que não conheço, alguém que nem sequer sei se existe,
estar ligado a mim?
O que une os
corações?
O que afasta a
humanidade?
* * *
Minhas forças estão
chegando ao fim.
Espero que tudo acabe
logo.
Já não quero mais
levantar.
Num último sopro de
resistência abro meus olhos que encontram os dele.
Estavam úmidos.
* * *
Eu estava cansado.
Muitas vezes queria
que tudo acabasse.
Precisava seguir minha
vida.
Foi quando, pela
primeira vez, nosso olhares se encontraram. Ele estava caído, e como em um
último sopro de vida abriu os olhos, que encontraram os meus e uma única
lágrima rolou sobre seu pequeno rostinho.
Naquele instante eu
sabia que ele era real e que de alguma forma eu o encontraria.
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