O DIÁLOGO DO SILÊNCIO
Naquela tarde eu não
queria brincar. Meu coração batia forte, como se algo muito especial estivesse
para acontecer, e estava.
* * *
A cada passo que eu
dava, o corredor se tornava mais longo. Era a primeira vez que eu visitava
aquela instituição, minhas mãos estavam frias.
* * *
Cheguei nesse lar com
dois anos, hoje tenho nove.
* * *
Quando parei em
frente à sala de recreação, minhas pernas se imobilizaram como âncoras.
A senhora que me
acompanhava perguntou se estava tudo bem, no que respondi com outra pergunta:
“onde fica o pátio?”
* * *
Sentada em um pequeno
banco colorido, eu olhava fixamente para a porta que dava acesso ao pátio, e
antes de ela surgir eu já sabia que era ela.
* * *
A luz do sol
encontrou meus olhos ao chegar à porta que dava acesso ao pátio; por alguns
instantes não consegui enxergar direito.
* * *
Talvez ela não
tivesse me visto! Fiquei em pé.
* * *
O foco começava a
voltar aos meus olhos.
* * *
Eu sabia que não
poderia ir ao encontro dela, por isso fiz uma tentativa desesperada: subi no
banco.
* * *
Esfreguei meus olhos
e, ao abri-los, como uma flecha, meu olhar encontrou o dela. Queria correr ao
seu encontro, mas minhas pernas não obedeceram.
* * *
Eu queria correr ao
encontro dela, mas era contra as regras; corri na direção oposta.
* * *
Fui em direção a ela.
Estávamos ambas visivelmente nervosas. “Por que você fugiu?” – perguntei.
* * *
“Fiquei com medo.”
* * *
“Medo de quê?”
* * *
“De que a senhora não
me reconhecesse.”
* * *
Nos abraçamos
demoradamente, em um perfeito diálogo do silêncio, daquele em que só os
sentimentos falam.
* * *
“Chegamos!”
* * *
O aviso do motorista
me trouxe de volta de minhas lembranças. Meu coração bateu forte. Desci do
carro. Meus pés tocaram aquela terra vermelha. Eu sabia que tinha encontrado os
corações ligados ao meu e ao de minha mãe, com quem aprendi que ser voluntário
é viver sem fronteiras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário