terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Episódio 10 - Vol. 2 - Botões



BOTÕES

        Vitória era apaixonada por museus, adorava história e falava dos objetos e peças antigas com tanta emoção, que levava todos a um silêncio profundo, quando iniciava uma de suas narrativas.
Ela não se limitava a dar apenas a informação, ela nos levava para dentro da história, nos transportava no tempo, trazia fatos e detalhes como se estivesse lá, como se tivesse vivido ou presenciado o que aconteceu.
Vitória não era nossa professora de história, era nossa colega na 7ª série, e foi graças a sua paixão que fizemos um trabalho muito legal!

Primeiro fizemos um passeio de estudo, visitamos três museus. A Vi era a mais empolgada e a empolgação dela acabou contagiando a turma toda.
Quando voltamos para a escola, pensando que teríamos que fazer algum tipo de relatório ou coisa parecida, foi a vez da professora nos surpreender. Ela propôs que criássemos um pequeno museu, que trouxesse um pouco da nossa história e da história da nossa família – e adivinha quem seria a curadora do museu?
Foi aí que a Vitória me convidou para fazer parte da equipe – e eu aceitei, é claro!
Na aula seguinte, Vitória apresentou qual o projeto para a turma, com que olhar histórico deveríamos selecionar as peças que fariam parte do acervo.
Foi um longo trabalho, mas recompensador – todos queriam visitar nosso museu.
Uma das peças que escolhi foi um botão que pertenceu a um casaco da minha vó Lina – era assim que eu a chamava.
Eu tinha seis anos, era aniversário da vó, e depois do “parabéns” ela agradeceu emocionada e disse que tinha uma surpresa para todos, era uma pequena lembrança, mas de grande valor.
A vó Lina tinha uma coleção de botões de roupas – talvez tenha herdado da vó esse gosto por coleções, era o xodó dela – xodó era a palavra que ela usava.
Ela escolheu os que mais gostava e deu um para cada familiar presente na festa, estávamos em 58 pessoas, e contou para cada um a história que envolvia aquele botão – lembro que as pessoas ficaram emocionadas.
O botão que eu ganhei tinha pertencido a primeira roupa, com botões, do seu filho mais novo, tio Getúlio, e como eu era o neto mais novo fiquei com ele. No mesmo instante, arranquei um de meus botões e dei de presente para a vó colocar na sua coleção – e ela aceitou!
Consegui reunir 57 botões – a vó Lina era muito querida por todos – cada um com a sua história. Também reuni os outros tantos botões da coleção, que voltava a ser apenas uma.
No dia de abertura para a visitação, uma grande surpresa – o botão que faltava foi encontrado. Meus parentes se emocionaram ao encontrarem a coleção da vó e suas histórias – eu também.
Depois disso a família decidiu não separar mais a coleção, e outros botões e histórias continuam sendo contadas e acrescentados a ela.

Naquele ano, entendemos o valor da história em nossas vidas, descobrimos que o nosso presente e o nosso futuro estão ligados àquilo que já fomos e que a palavra “história” é muito mais do que uma aula ou disciplina, é a vida passada a limpo, nos convidando pra lembrarmos quem realmente somos.

Vitória e eu nos tornamos grandes amigos, até hoje.

O botão que dei naquela tarde para a vó também estava lá, junto à coleção, e cada vez que a família se reúne em torno da coleção, é como se a vó estivesse com a gente, contando histórias que o tempo e a nossa coleção vão guardar com muito carinho.

Essa história é dedicada à minha querida vó Lina.
Beijo, vó!

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