Vitória
era apaixonada por museus, adorava história e falava dos objetos e peças
antigas com tanta emoção, que levava todos a um silêncio profundo, quando
iniciava uma de suas narrativas.
Ela não se limitava a dar
apenas a informação, ela nos levava para dentro da história, nos transportava
no tempo, trazia fatos e detalhes como se estivesse lá, como se tivesse vivido
ou presenciado o que aconteceu.
Vitória não era nossa
professora de história, era nossa colega na 7ª série, e foi graças a sua paixão
que fizemos um trabalho muito legal!
Primeiro fizemos um passeio
de estudo, visitamos três museus. A Vi era a mais empolgada e a empolgação dela
acabou contagiando a turma toda.
Quando voltamos para a
escola, pensando que teríamos que fazer algum tipo de relatório ou coisa
parecida, foi a vez da professora nos surpreender. Ela propôs que criássemos um
pequeno museu, que trouxesse um pouco da nossa história e da história da nossa
família – e adivinha quem seria a curadora do museu?
Foi aí que a Vitória me
convidou para fazer parte da equipe – e eu aceitei, é claro!
Na aula seguinte, Vitória
apresentou qual o projeto para a turma, com que olhar histórico deveríamos
selecionar as peças que fariam parte do acervo.
Foi um longo trabalho, mas
recompensador – todos queriam visitar nosso museu.
Uma das peças que escolhi
foi um botão que pertenceu a um casaco da minha vó Lina – era assim que eu a
chamava.
Eu tinha seis anos, era
aniversário da vó, e depois do “parabéns” ela agradeceu emocionada e disse que
tinha uma surpresa para todos, era uma pequena lembrança, mas de grande valor.
A vó Lina tinha uma coleção
de botões de roupas – talvez tenha herdado da vó esse gosto por coleções, era o
xodó dela – xodó era a palavra que ela usava.
Ela escolheu os que mais
gostava e deu um para cada familiar presente na festa, estávamos em 58 pessoas,
e contou para cada um a história que envolvia aquele botão – lembro que as
pessoas ficaram emocionadas.
O botão que eu ganhei tinha
pertencido a primeira roupa, com botões, do seu filho mais novo, tio Getúlio, e
como eu era o neto mais novo fiquei com ele. No mesmo instante, arranquei um de
meus botões e dei de presente para a vó colocar na sua coleção – e ela aceitou!
Consegui reunir 57 botões –
a vó Lina era muito querida por todos – cada um com a sua história. Também
reuni os outros tantos botões da coleção, que voltava a ser apenas uma.
No dia de abertura para a
visitação, uma grande surpresa – o botão que faltava foi encontrado. Meus
parentes se emocionaram ao encontrarem a coleção da vó e suas histórias – eu
também.
Depois disso a família
decidiu não separar mais a coleção, e outros botões e histórias continuam sendo
contadas e acrescentados a ela.
Naquele ano, entendemos o
valor da história em nossas vidas, descobrimos que o nosso presente e o nosso
futuro estão ligados àquilo que já fomos e que a palavra “história” é muito
mais do que uma aula ou disciplina, é a vida passada a limpo, nos convidando pra
lembrarmos quem realmente somos.
Vitória e eu nos tornamos
grandes amigos, até hoje.
O botão que dei naquela
tarde para a vó também estava lá, junto à coleção, e cada vez que a família se
reúne em torno da coleção, é como se a vó estivesse com a gente, contando
histórias que o tempo e a nossa coleção vão guardar com muito carinho.
Essa história é dedicada à
minha querida vó Lina.
Beijo, vó!
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