A
cada dois meses temos cinema na escola, e é muito legal!
Funciona
assim: primeiro é lançada a programação, são vários filmes, cada um em uma sala
diferente, a gente escolhe o filme, compra o ingresso, que é sempre uma ação
social – o ingresso do último mês foi um lápis, já teve ingresso borracha,
caneta, folha A4 e outros – tudo doado depois da sessão, escolhe o lugar que
quer sentar e que é numerado, e no dia, cada um vai para a sua sala, assistir
ao filme que escolheu ou que ainda tinha ingresso. As regras são as mesmas de
uma sala de cinema do shopping, e em
cada uma um professor é o responsável.
Tem
de tudo, desde documentário até clássicos, mas às vezes a mostra é temática, só
clássicos de aventura, ou cinema nacional, ou só documentários, ou ficção
científica – que eu adoro!
A comissão de organizadores
é composta por professores e alunos, que são sempre muito criativos nas
escolhas. Os alunos também podem dar sugestões.
Depois
do filme a gente bate um papo rápido sobre o que viu, faz uma avaliação e dá
uma nota para o filme – os que recebem melhores notas voltam a cartaz na última
semana de aula, na mostra dos melhores filmes do ano – só filme top!
Desse
projeto nasceu o Clube do Filme, que se reúne uma vez por mês para assistir a
um filme e discutir cinema – são os cinéfilos! Não é legal essa palavra?
Eu
estava na 8ª série, e sem esperar, minha amiga Márcia me perguntou:
–
Tenho dois ingressos para “Os Miseráveis”, quer ver comigo?
Fiquei
meio sem jeito, mas é claro que eu queria. Pra disfarçar eu perguntei:
–
Que tipo de filme é esse?
Desculpando
minha ignorância, ela gentilmente me explicou que se tratava de um musical
feito a partir da obra escrita por Vitor Hugo.
Na
hora quase recusei; um musical de miseráveis, acompanhado de uma menina – não
de uma menina qualquer, da Márcia – o que os meus amigos iriam dizer? Azar. A
Márcia venceu e eu disse “é claro que eu quero!” – falei assim mesmo, eu tava
entusiasmado, e ela notou, mas notei que ela também estava...
Finalmente
chegou o dia...
Banho
tomado, perfume, uniforme limpo, chicletinho no bolso pra refrescar o hálito; tudo
certo.
Pra
não pagar mico, pesquisei sobre Vitor Hugo e Os Miseráveis – o cara era fera!
Os
lugares eram na primeira fila.
Eu
preferia que fossem na última, mas tudo bem, eu estava com ela.
O
filme me invadiu já na primeira cena, foi arrebatador!
O
silêncio na sala dizia tudo.
E
quando Fantine inicia a música que deu o Oscar a sua atriz, Márcia segurou
minha mão, e à medida que a cena avançava, seguramos com força um a mão do
outro, compartilhamos naquele momento toda a emoção vivida pela personagem, nos
apoiamos um no outro, sentimos a profundidade daquela dor e no final, aliviamos
a carga das mãos para então secar as lágrimas derramadas pela tinta da pena de
Vitor Hugo através dos olhos da personagem e dos nossos.
Assim
como todos na sala, rimos, choramos, nos encantamos, nos apaixonamos, sofremos
e fomos libertados pela cena final, que mais uma vez nos levou as lágrimas.
E
quando os créditos surgiram na tela, nos olhamos, sequei uma última lágrima que
descia já solitária pela face de Márcia e disse “Obrigado!”.
Sem
nada dizer, ela me beijou.
Foi
meu primeiro beijo!
Quando
saímos da sessão, meus amigos estavam lá, só esperando, e me zoaram muito...
Mas
quem se importa!
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