A
professora preparou oito temas diferentes e depois sorteou entre a turma. O
trabalho era individual, deveríamos escrever sobre o tema que sorteamos, o que
significava que cada assunto seria tratado por cinco alunos.
O
meu assunto, e de mais quatro colegas, era Educação. Como enxergávamos a
educação naquele momento e como ela poderia ser.
Trabalho
complicado!
Meu
colega Fred abriu as apresentações. Ele comparou a sala de aula a uma cela com
capacidade para 20 detentos, mas com lotação de 40. “E ainda querem que a gente
aprenda e saia dali transformados. Transformados em quê?”
Continuou
sua fala comparando os professores a carcereiros, que estão mais preocupados
com suas vidas, em sair vivos ao final do turno e que são responsáveis por
manter todos nos seus devidos lugares, sob a lei e a ordem.
Nem
preciso dizer que ele foi muito aplaudido.
A
solução que ele apresentou foi bem interessante...
“Temos
que acabar com as prisões e transformar esses lugares de dor em espaços de
convivência, onde o que vai nos prender não são as grades, mas a vontade de
estar ali, porque estar ali faz sentido.”
Novo
aplauso!
Na
prática acho que ele não disse muita coisa, mas valeu a ideia!
Para
Fran, a educação era como uma festa de 15 anos: quem foi a uma, já viu todas –
uma chatice; e é por isso que os para os seus 15, ela prometia algo nunca visto
antes, sem a mesmice das mesmas e repetidas tradições.
No
final das contas ela foi pra Disney e a festa nunca aconteceu.
Leonora
leu uma definição de educação de um dicionário qualquer, voltou para o seu
lugar e fim – demorou mais tempo indo e vindo do que para ler seu trabalho, e
recebeu um longo aplauso...
O
Lucas não veio (ele sempre falta nesses dias, a maioria dos professores sempre
faz uma piadinha maldosa, mas nenhum deles tenta descobrir por que isso
acontece; eu sei, e acredito que se os professores também soubessem, tentariam
ajudá-lo).
“João!”
Quando
ouvi a professora chamar meu nome, meu coração disparou – normal – mesmo
sabendo que era a minha vez.
Fui
à frente da turma e comecei minha apresentação.
Para
mim, a educação é como uma longa viagem feita de carro – alguns carros são mais
novos, outros nem tanto, alguns são completos e possantes; outros, populares e
um tanto lentos; alguns quebram no caminho, outros sofrem acidentes; alguns
chegam antes e outros bem depois; alguns podem ir mais longe; outros ficarão
por perto.
Levamos
muitas coisas na bagagem; muitas delas nem vamos usar; outras, que seriam
essenciais, deixamos de fora e só nos damos conta da sua falta, quando já é
tarde demais.
Às
vezes podemos adquirir aquilo que foi esquecido, às vezes não.
E
porque queremos chegar logo, e reclamamos do tempo, da temperatura, do espaço,
e de tudo que está a nossa volta, esquecemos de olhar a paisagem que o caminho
proporciona.
Nem
tudo é legal em uma viagem, mas só podemos chegar ao destino se viajarmos.
Depois
disso, apresentei minha ideia para uma escola em que a viagem fosse pensada de
uma outra forma, em que na bagagem colocássemos coisas que realmente serão
importantes e úteis, em que tivéssemos tempo e prazer em admirar a paisagem e
que ao final da jornada pudéssemos compartilhar nossa experiência, fazendo da
viagem daqueles que vem depois de nós, algo ainda melhor do que vivemos.
Sei
que para a maioria da turma aquele foi só mais um trabalho da nona série, mas
para mim foi a confirmação de algo que no fundo eu já sabia: eu seria
Professor!
E faria o máximo para que a
nossa viagem fosse inesquecível!
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