Por
que alguns professores têm tantos recursos, mas os usam tão mal, enquanto que
outros quase nada têm e tanto realizam?
O
que determina um grande professor?
Meu
tio Leonardo é professor na escola mais pobre do município, no bairro mais
afastado de tudo, com falta de quase tudo, porque como diz tio Léo “aqui só não
falta amor”.
Ao
saber da minha vontade de me tornar professor, ele me fez um convite, para que
eu fizesse um trabalho voluntário na escola em que ele lecionava, ajudando nas
muitas possibilidades de trabalho que o colégio proporcionava. Seria um turno
por semana. Aceitei entusiasmado.
Meus
pais concordaram e, na semana seguinte, lá estava eu, pronto para o trabalho.
Saí da escola e fui direto
para a casa do meu tio, cheguei no horário combinado. O tio sorriu e disse
“vamos?”.
– Não vamos almoçar? – eu
estava louco de fome.
– Não dá tempo. Você pode
comer na escola.
Estranhei, porque ao invés
de ir para a garagem, ele se dirigiu ao portão.
–
Nós não vamos de carro? – perguntei.
–
É muito longe. Vamos de ônibus.
Mais
de uma hora de viagem. O sinal já havia tocado. As crianças estavam no
refeitório. O tio entrou comigo na fila.
–
O senhor almoça aqui?
–
É claro, a comida é simples, mas é ótima.
E
era mesmo!
Quando
terminamos perguntei:
–
O que devo fazer, tio?
–
Apenas observe.
–
Observar?
–
Quem sabe observar aprende, ensina e compartilha.
–
Compartilha?
–
Quem acha que só ensina, não aprendeu nada. Educação é uma troca.
No
final do turno eu estava bastante cansado, mas satisfeito. Voltamos pelo longo
trajeto, em silêncio.
Quando
chegamos, o tio falou apenas “te levo em casa”.
Novo
silêncio até a minha casa.
Antes de eu descer o tio
perguntou:
– Foi a miséria que te
chocou tanto assim?
Naquele instante, o turno
inteiro passou como um filme na minha memória, até que respondi:
– Não.
Meu
tio sorriu, aquele sorriso, sem mostrar os dentes.
–
Te vejo na semana que vem?
Foi a minha vez de sorrir.
– Com certeza.
Dei um abraço no tio e
desci.
Eu sei que ele entendeu o
que eu estava sentindo e pensando...
Como pode uma escola com tão
pouco oferecer tanto?
Eu sabia que teria que
voltar muitas vezes até responder essa pergunta, mas de uma coisa eu já tinha
certeza: a fartura de sorrisos, de solidariedade, de fraternidade e a
satisfação das crianças que eu observei naquela tarde, superava a falta daquilo
que sobra em tantas salas.
O meu desafio agora seria
não mais observar, mas conviver, aprender, ensinar e compartilhar.
Prof. Adriano.
ResponderExcluirQuanta luz, quanta fé!
Primeiro, quero lhe agradecer por ter socializado o material do seu blog. Alguns textos já se tornaram exemplos para mim e os tenho comentado nas minhas exposições.
Obrigado pela partilha da arte da sua mente, do seu coração e das suas mãos.
Que tenhamos um bom semestre de pontas... viagens... lágrimas... invenções...
Grato pela socialização e tenha certeza que multiplicarei!
abraço,
Prof. Humberto