Sabe o que torna tão legal
um adulto brincar com uma criança?
A gente consegue ver a
criança que mora dentro dele!
E melhor do que isso, a
gente consegue brincar com ela!
Adultos nada mais são do que
crianças grandes, que na maioria das vezes esqueceram de como era bom o tempo
em que riam e se divertiam, e choravam por qualquer coisa, e brincavam, e
achavam que os dias bons sempre compensavam aqueles que não eram tão bons
assim.
Eu sei que as
responsabilidades de um adulto são muito grandes, mas isso não é motivo para não
sorrir, ou cantar uma música, ou brincar com seu filho, ou com seu aluno.
Brincar é coisa séria!
Eu tive um professor que
pensava assim.
Ele dizia que não há nada
mais sério do que uma boa brincadeira.
Com ele a gente aprendeu a
brincar de aprender.
Me lembro quando cheguei
para o primeiro dia de aula naquela escola, eu não acreditei!
Parei em frente à sala 15 e
fiquei me perguntando se eu estava no lugar certo. A professora que estava
comigo confirmou:
- É aqui.
Fiquei sem palavras, mas ela
quebrou o silêncio:
- O que achou?
- Demais!
A parede de fora da sala era
um grande ônibus escolar, com uma pintura superlegal, a porta da sala era a
porta do ônibus e as janelas da sala eram as janelas do ônibus. Eu ia estudar
num ônibus!
De repente a porta se abriu
e um homem com quepe de motorista apareceu, olhou pra mim, sorriu e disse:
- Como vai, meu jovem?
- Eu vou bem. – disse ainda
sem entender direito tudo o que estava acontecendo.
- Você deve ser o novo
passageiro!
- Isso mesmo. – respondeu a
professora.
- Excelente! Pode deixar que
tomo conta dele, senhorita Marcela.
- Boa viagem, João!
- Obrigado! – falei quase
sem voz.
A professora Marcela deu
meia volta e me deixou ali. Olhei para o motorista, quer dizer, o professor e
fiquei esperando que ele me dissesse para entrar, mas não foi isso o que
aconteceu. Ele olhou para mim, esticou a mão e disse:
- Bilhete e passaporte
interescolar.
Eu gelei. Do que ele estava
falando? Ninguém me deu nenhum bilhete, passaporte eu tinha, mas não era
interescolar! Respondi meio sem jeito:
- Eu não tenho bilhete!
- Passagem?
- Também não tenho passagem!
- Passaporte interescolar, o
senhor tem?
- Interescolar não!
- E como o senhor pretende
embarcar?
- Embarcar? – estava tão
surpreso que deixei escapar.
- Isso mesmo.
- Pensei que fosse uma sala
de aula!
O professor parou do meu
lado, de frente para a sala e perguntou:
- O que o senhor está vendo?
Fiquei indeciso com a
resposta, mas falei:
- Um ônibus!
- Exatamente! E o que é
preciso para embarcar em um ônibus?
- Uma passagem.
- Agora estamos nos
entendendo.
- Mas eu não tenho passagem!
- Então vai ter que
providenciar uma.
A essa altura eu comecei a
me preocupar, e fui direto com o professor:
- Eu não tenho dinheiro!
- Dinheiro? Isso não é
necessário.
- Mas então como eu faço pra
conseguir uma passagem?
- É muito fácil, você faz
uma.
Ele percebeu que eu não
entendi, mas também não tive coragem de dizer, e falou:
- Você entendeu?
Respondi com a cabeça, que
não.
- Eu explico: para embarcar
nesse ônibus e viver todas aventuras para as quais ele vai nos levar todos os
dias, você tem que produzir uma passagem, um bilhete de embarque, entendeu?
- Como?
- Como é o seu primeiro dia
eu vou lhe ajudar. Aqui está, basta preencher.
Ele me deu um pedaço de
papel em branco, retangular, mais ou menos de um quarto de folha. E eu, olhando
para o papel perguntei:
- O que devo escrever?
- Escrever, desenhar,
colorir... Use sua imaginação, seja criativo! Quando estiver pronto é só bater
na porta.
- Devo fazer isso aqui no
corredor?
- Lá dentro é só para quem
tem bilhete.
Disse isso e entrou,
fechando a porta atrás de si. E eu, fiquei ali, sozinho no corredor e, com
certeza, com cara de bobo. Mas confesso que estava achando o máximo.
Tratei de pegar meus
materiais e não demorei muito e já estava com a passagem pronta. Bati na porta.
Ela se abriu.
- Pois não?
Estiquei meu braço e falei
todo feliz:
- Minha passagem!
O professor pegou a
passagem, examinou e disse:
- Não tem seu nome!
Me devolveu a passagem e
fechou a porta.
Rapidamente coloquei meu
nome e bati novamente na porta; ela se abriu.
- Pois não?
- Minha passagem!
Ele conferiu a passagem e
com um largo sorriso falou:
- Bem-vindo a bordo, João!
Abriu a porta e eu
embarquei.
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